À espera do ‘apito final’ do regulador, Banco Económico já só trabalha com um balconista em cada agência.

Os dias que antecedem a decisão do banco central angolano para encerrar, definitivamente, o Banco Económico são sombrios. Quase não existe movimento nas agências da instituição que já foi o ex-libris da banca doméstica angolana. Do total de 79 agências restantes, mais da metade não tem sistema e quase não recebe nenhum cliente ao longo do dia. Será desta vez que o BNA deitará abaixo o “‘gigante’ de pés de barro?”, questionam traders da banca nacional.

Dário do Leste

As agências do Banco Económico estão, há mais de seis meses, que quase não recebem nenhum cliente porta a dentro. Até à última Sexta-feira, 16, apenas um trabalhador da área comercial estava destacado em cada um dos vários balcões deste banco espalhados por Luanda para atender parte dos 222.900 clientes (dados até 2020), um mecanismo que se encontrou enquanto a administração aguarda pela decisão do Banco Nacional de Angola (BNA) que deve determinar a liquidação do banco, apurou o Kieto Economia de fontes da gestão da instituição bancária e de contacto com colaboradores no terreno.

Servindo-se do método de pesquisa ‘Cliente Misterioso’, este jornal constatou que, do  total de 79 agências (números referentes ao exercício 2020. 2022 é inexistente no site) a operar pelo país, pouco mais de metade apresenta problemas de ligação de rede, também designado ‘falha de sistema’, um tema que, segundo a nossa fonte, está a ser usado para, por falta de recursos no banco, evitar receber pessoas que queiram levantar os seus recursos aí depositados.  

No terreno, em pelo menos 5 agências de Luanda, por exemplo, foi possível confirmar que apenas um trabalhador fica no balcão à espera de clientes ou potenciais clientes para tratar de um ou outro assunto, ou, no limite, pedir esclarecimentos sobre a situação operacional daquele banco que já foi referência nacional no que as boas práticas de fazer negócio dizem respeito.

Este caso pode ser constatado na agência do Condomínio do Bengo, à Vila Alice, e na outra anexada ao edifício sede da TV Zimbo, em Talatona, entre outros casos similares em Luanda.

A redução na operação e na disposição dos técnicos do banco deu-se, inicialmente, em finais do ano passado, quando a instituição colocou em marcha um plano de redimensionamento com vista a dar robustez financeira e tornar o banco outra vez “bom para fazer negócio”. A estratégia falhou, pois os passivos junto do mercado eram de tal dimensão que obrigou os donos a gizar um plano de venda do edifício sede para trazer liquidez à instituição.

Até para salários, o banco já não tinha “nada” na tesouraria. Tanto é que, nalguns casos, teve de se socorrer do próprio banco central, onde já tem avultadas dívidas, para ‘dar de comer’ aos seus colaboradores que já não  são muitos. O relatório e contas de 2021, o último até agora publicado, o banco chega mesmo a assumir um ‘gap de liquidez’.

Só para se ter uma ideia, o banco chegou a perder dois gestores de topo em menos de dois anos. Um deles é Carlos Duarte, antigo PCA da ENSA e da Nossa Seguros, respectivamente. Duarte foi decisivo na descoberta da situação de crise por que passava o banco.

Aos accionistas, não faltaram avisos. Fontes da administração anterior chegaram mesmo a garantir ao Kieto Economia que as contas de balanço referentes ao exercício financeiro 2022 do Banco  Económico acabariam no vermelho, no que seria o maior prejuízo de sempre na banca angolana.

Corrida aos depósitos

Assim, e face ao actual contexto, analistas questionam-se o que impede de os clientes e demais investidores solicitarem a retirada dos seus depósitos naquele que em se advinha, hoje mais do que nunca, um desfecho desastroso.

Dados disponíveis na internet atestam isso mesmo. Citado pela imprensa angolana, Alberto Vunge, economista, já chegou a questionar mesmo a possibilidade de os agentes económicos retirarem os seus depósitos daquele banco.

Segundo este economista e quadro do sector financeiro bancário angolano, a “irracionalidade dos clientes é a âncora que mantém o Banco Económico (BE) no mercado”.

Para ele, o BE fechou-se ao mercado para executar o Plano de Recapitalização e Reestruturação (PRR). “Quando se abriu ao público, para quem tem olhos treinados como os meus, a informação era um verdadeiro barril de pólvora. Aliás, como escrevi, tão logo eles retornaram a publicação das contas, o ‘BE caminhava sobre a navalha’, apesar de todo o esforço então feitos”, advertiu o gestor bancário, antevendo o ‘day-after’ pesado para o mercado bancário angolano, no caso de uma eventual corrida aos depósitos do Banco Económico.

 

À espera do ‘apito final’ do regulador, Banco Económico já só trabalha com um balconista em cada agência

Os dias que antecedem a decisão do banco central angolano para encerrar, definitivamente, o Banco Económico são sombrios. Quase não existe movimento nas agências da instituição que já foi o ex-libris da banca doméstica angolana. Do total de 79 agências restantes, mais da metade não tem sistema e quase não recebe nenhum cliente ao longo do dia. Será desta vez que o BNA deitará abaixo o “‘gigante’ de pés de barro?”, questionam traders da banca nacional.

Set 20, 2023 - 10:45
Última atualização   - 11:24
À espera do ‘apito final’ do regulador, Banco Económico já só trabalha com um balconista em cada agência
© Fotografia por: DR
À espera do ‘apito final’ do regulador, Banco Económico já só trabalha com um balconista em cada agência

Dário do Leste

As agências do Banco Económico estão, há mais de seis meses, que quase não recebem nenhum cliente porta a dentro. Até à última Sexta-feira, 16, apenas um trabalhador da área comercial estava destacado em cada um dos vários balcões deste banco espalhados por Luanda para atender parte dos 222.900 clientes (dados até 2020), um mecanismo que se encontrou enquanto a administração aguarda pela decisão do Banco Nacional de Angola (BNA) que deve determinar a liquidação do banco, apurou o Kieto Economia de fontes da gestão da instituição bancária e de contacto com colaboradores no terreno.

Servindo-se do método de pesquisa ‘Cliente Misterioso’, este jornal constatou que, do  total de 79 agências (números referentes ao exercício 2020. 2022 é inexistente no site) a operar pelo país, pouco mais de metade apresenta problemas de ligação de rede, também designado ‘falha de sistema’, um tema que, segundo a nossa fonte, está a ser usado para, por falta de recursos no banco, evitar receber pessoas que queiram levantar os seus recursos aí depositados.  

No terreno, em pelo menos 5 agências de Luanda, por exemplo, foi possível confirmar que apenas um trabalhador fica no balcão à espera de clientes ou potenciais clientes para tratar de um ou outro assunto, ou, no limite, pedir esclarecimentos sobre a situação operacional daquele banco que já foi referência nacional no que as boas práticas de fazer negócio dizem respeito.

Este caso pode ser constatado na agência do Condomínio do Bengo, à Vila Alice, e na outra anexada ao edifício sede da TV Zimbo, em Talatona, entre outros casos similares em Luanda.

A redução na operação e na disposição dos técnicos do banco deu-se, inicialmente, em finais do ano passado, quando a instituição colocou em marcha um plano de redimensionamento com vista a dar robustez financeira e tornar o banco outra vez “bom para fazer negócio”. A estratégia falhou, pois os passivos junto do mercado eram de tal dimensão que obrigou os donos a gizar um plano de venda do edifício sede para trazer liquidez à instituição.

Até para salários, o banco já não tinha “nada” na tesouraria. Tanto é que, nalguns casos, teve de se socorrer do próprio banco central, onde já tem avultadas dívidas, para ‘dar de comer’ aos seus colaboradores que já não  são muitos. O relatório e contas de 2021, o último até agora publicado, o banco chega mesmo a assumir um ‘gap de liquidez’.

Só para se ter uma ideia, o banco chegou a perder dois gestores de topo em menos de dois anos. Um deles é Carlos Duarte, antigo PCA da ENSA e da Nossa Seguros, respectivamente. Duarte foi decisivo na descoberta da situação de crise por que passava o banco.

Aos accionistas, não faltaram avisos. Fontes da administração anterior chegaram mesmo a garantir ao Kieto Economia que as contas de balanço referentes ao exercício financeiro 2022 do Banco  Económico acabariam no vermelho, no que seria o maior prejuízo de sempre na banca angolana.

Corrida aos depósitos

Assim, e face ao actual contexto, analistas questionam-se o que impede de os clientes e demais investidores solicitarem a retirada dos seus depósitos naquele que em se advinha, hoje mais do que nunca, um desfecho desastroso.

Dados disponíveis na internet atestam isso mesmo. Citado pela imprensa angolana, Alberto Vunge, economista, já chegou a questionar mesmo a possibilidade de os agentes económicos retirarem os seus depósitos daquele banco.

Segundo este economista e quadro do sector financeiro bancário angolano, a “irracionalidade dos clientes é a âncora que mantém o Banco Económico (BE) no mercado”.

Para ele, o BE fechou-se ao mercado para executar o Plano de Recapitalização e Reestruturação (PRR). “Quando se abriu ao público, para quem tem olhos treinados como os meus, a informação era um verdadeiro barril de pólvora. Aliás, como escrevi, tão logo eles retornaram a publicação das contas, o ‘BE caminhava sobre a navalha’, apesar de todo o esforço então feitos”, advertiu o gestor bancário, antevendo o ‘day-after’ pesado para o mercado bancário angolano, no caso de uma eventual corrida aos depósitos do Banco Económico.

 

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