Carrinho revela primeiras contas em 30 anos com apenas 322,4 milhões USD de lucros, mas ‘esconde’ dados sobre verdadeira evolução da riqueza.

Não se conhece, desde 1993, nada sobre a situação operacional ou financeira deste grupo familiar que, de forma surpreendente, passou a liderar o segmento de produção e distribuição alimentar no País. Detida pelos irmãos Carrinhos, empresa decidiu agora abrir-se à imprensa com divulgação de contas que, para a tristeza dos angolanos, só mostram resultados de um único exercício económico, o 2022, o que levanta suspeitas de que este não seja o real valor dos proveitos em 30 anos de actividade. Também não se conhece, publicamente, nenhum único relatório e conta da companhia.

Dário do Leste, em Benguela

Os primeiros resultados líquidos da empresa de Leonor Carrinho, Grupo com o mesmo nome, foram tornados públicos na semana passada e revelam lucros de apenas pouco mais de 300 milhões de dólares, os únicos números disponíveis sobre os proveitos e mais-valias daquela empresa familiar em 30 anos de actividade ininterrupta, revelou o administrador financeiro da firma, Samuel Candundo.

No breve prazo, propriamente até 31 de Dezembro deste ano, o Grupo prevê triplicar os seus resultados líquidos. Mas o que não avança é como é que conseguiu chegar aos poucos 322,4 milhões de dólares e com que 'milagres' saltará para o triplo deste valor já em finais de 2023, já que os balanços e demonstrações de resultados daquela empresa são quase inexistentes, ou, se existem, só para o conhecimento dos administradores e do ‘verdadeiro’ patrão, conforme fonte da empresa. 

De omissão não é tudo. Também se mantêm nos segredos dos ‘deuses de Benguela’ qual o real valor dos activos do grupo familiar, além dos passivos junto da banca comercial e potenciais credores. De acordo com especialistas em análise financeira, entre os quais quadros da Universidade Católica de Angola, quando se desconhecem o Key Performance Indicators (KPI)  – Indicadores-Chave de Desempenho – de uma empresa, é sinal de que “qualquer coisa não vai bem no negócio”.

“O Grupo Carrinho requer um bom ‘pente-fino’ às suas contas. Uma boa CPI de como é que foram aplicados os valores das adjudicações, muito se saberá sobre a forma como a família gastou o dinheiro dos angolanos”, comentou, lacónico, outro analista.
Até à semana passada, pouco ou nada se sabia sobre a situação patrimonial ou financeira daquele grupo empresarial detido por uma família, que, segundo contaram por altura dos festejos dos 30 anos de actividade, iniciaram operações numa espécie de “barraca” de comida caseira.

De uma barraca de comida caseira a ‘gigante’ do sector industrial, o Grupo Carrinho é hoje das maiores empresas do sector de produção e distribuição alimentar em Angola e na região da SADC, com tentáculos em quase todas as províncias de Angola, dono de um parque industrial que, de tão grande, chega a cansar os  olhos de quem por lá passa. 
O problema é que, dada a sua grandeza e importância económica, o Grupo Carrinho não diz, ao detalhe, o percurso da evolução da sua riqueza, nem mesmo como se financiou, inicialmente, para ser dominador do mercado e ter conquistado quase larga maioria dos contratos de prestação de serviço de venda e distribuição alimentar aos órgãos do Estado, como as Forças Armadas da República de Angola.

Ao Kieto Economia, três gestores de grandes empresas ligadas ao sector de distribuição alimentar, um deles filiado à Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna de Angola (ECODIMA), defende que, com esse sucesso, o Grupo Carinho tinha de se sentir obrigado a prestar mais informação ao mercado, isto não só por ter tido, durante um largo período, o monopólio dos contratos públicos, mas devido aos financiamento públicos de que beneficia, através das adjudicações directas e simplificadas ordenadas pelo Presidente da República.

Grupo prepara entrada no mercado português

Ainda pela voz do seu Chief Financial Officer (CFO), Samuel Candundo, O Grupo Carrinho vai  criar um family Office em Portugal, mas garante que se trata apenas de uma estratégia de implementação do modelo. 
Analistas entendem este modelo avançado como forma de o grupo estar a preparar saída de capitais em Angola, ou, no limite, de furar para o mercado alimentar português, estratégia que, para muito, não será difícil para família já que os filhos têm nacionalidade portuguesa e são tidos como grandes investidores por aquelas paragens.

Na opinião de outro gestor benguelense, essa é a altura para que se inicie uma inspecção às contas da carrinho, já que beneficiou de um amplo financiamento público para se tornar no gigante que é hoje e está a preparar-se para, nalgum momento, abandonar o mercado com a institucionalização do adoptado family office ocidental. 

Carrinho revela primeiras contas em 30 anos com apenas 322,4 milhões USD de lucros, mas ‘esconde’ dados sobre verdadeira evolução da riqueza

Não se conhece, desde 1993, nada sobre a situação operacional ou financeira deste grupo familiar que, de forma surpreendente, passou a liderar o segmento de produção e distribuição alimentar no País. Detida pelos irmãos Carrinhos, empresa decidiu agora abrir-se à imprensa com divulgação de contas que, para a tristeza dos angolanos, só mostram resultados de um único exercício económico, o 2022, o que levanta suspeitas de que este não seja o real valor dos proveitos em 30 anos de actividade. Também não se conhece, publicamente, nenhum único relatório e conta da companhia.

Set 15, 2023 - 09:37
Última atualização   - 12:52
Carrinho revela primeiras contas em 30 anos com apenas 322,4 milhões USD de lucros, mas ‘esconde’ dados sobre verdadeira evolução da riqueza
© Fotografia por: DR
Carrinho revela primeiras contas em 30 anos com apenas 322,4 milhões USD de lucros, mas ‘esconde’ dados sobre verdadeira evolução da riqueza

Dário do Leste, em Benguela

Os primeiros resultados líquidos da empresa de Leonor Carrinho, Grupo com o mesmo nome, foram tornados públicos na semana passada e revelam lucros de apenas pouco mais de 300 milhões de dólares, os únicos números disponíveis sobre os proveitos e mais-valias daquela empresa familiar em 30 anos de actividade ininterrupta, revelou o administrador financeiro da firma, Samuel Candundo.

No breve prazo, propriamente até 31 de Dezembro deste ano, o Grupo prevê triplicar os seus resultados líquidos. Mas o que não avança é como é que conseguiu chegar aos poucos 322,4 milhões de dólares e com que 'milagres' saltará para o triplo deste valor já em finais de 2023, já que os balanços e demonstrações de resultados daquela empresa são quase inexistentes, ou, se existem, só para o conhecimento dos administradores e do ‘verdadeiro’ patrão, conforme fonte da empresa. 

De omissão não é tudo. Também se mantêm nos segredos dos ‘deuses de Benguela’ qual o real valor dos activos do grupo familiar, além dos passivos junto da banca comercial e potenciais credores. De acordo com especialistas em análise financeira, entre os quais quadros da Universidade Católica de Angola, quando se desconhecem o Key Performance Indicators (KPI)  – Indicadores-Chave de Desempenho – de uma empresa, é sinal de que “qualquer coisa não vai bem no negócio”.

“O Grupo Carrinho requer um bom ‘pente-fino’ às suas contas. Uma boa CPI de como é que foram aplicados os valores das adjudicações, muito se saberá sobre a forma como a família gastou o dinheiro dos angolanos”, comentou, lacónico, outro analista.
Até à semana passada, pouco ou nada se sabia sobre a situação patrimonial ou financeira daquele grupo empresarial detido por uma família, que, segundo contaram por altura dos festejos dos 30 anos de actividade, iniciaram operações numa espécie de “barraca” de comida caseira.

De uma barraca de comida caseira a ‘gigante’ do sector industrial, o Grupo Carrinho é hoje das maiores empresas do sector de produção e distribuição alimentar em Angola e na região da SADC, com tentáculos em quase todas as províncias de Angola, dono de um parque industrial que, de tão grande, chega a cansar os  olhos de quem por lá passa. 
O problema é que, dada a sua grandeza e importância económica, o Grupo Carrinho não diz, ao detalhe, o percurso da evolução da sua riqueza, nem mesmo como se financiou, inicialmente, para ser dominador do mercado e ter conquistado quase larga maioria dos contratos de prestação de serviço de venda e distribuição alimentar aos órgãos do Estado, como as Forças Armadas da República de Angola.

Ao Kieto Economia, três gestores de grandes empresas ligadas ao sector de distribuição alimentar, um deles filiado à Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna de Angola (ECODIMA), defende que, com esse sucesso, o Grupo Carinho tinha de se sentir obrigado a prestar mais informação ao mercado, isto não só por ter tido, durante um largo período, o monopólio dos contratos públicos, mas devido aos financiamento públicos de que beneficia, através das adjudicações directas e simplificadas ordenadas pelo Presidente da República.

Grupo prepara entrada no mercado português

Ainda pela voz do seu Chief Financial Officer (CFO), Samuel Candundo, O Grupo Carrinho vai  criar um family Office em Portugal, mas garante que se trata apenas de uma estratégia de implementação do modelo. 
Analistas entendem este modelo avançado como forma de o grupo estar a preparar saída de capitais em Angola, ou, no limite, de furar para o mercado alimentar português, estratégia que, para muito, não será difícil para família já que os filhos têm nacionalidade portuguesa e são tidos como grandes investidores por aquelas paragens.

Na opinião de outro gestor benguelense, essa é a altura para que se inicie uma inspecção às contas da carrinho, já que beneficiou de um amplo financiamento público para se tornar no gigante que é hoje e está a preparar-se para, nalgum momento, abandonar o mercado com a institucionalização do adoptado family office ocidental. 

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